quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

King Henrique


Bobão! Ele era muito bobão. Mas um bobão fofo, desses que só quem tem intimidade tem coragem de dizer que é bobo. E tinha que ter coragem mesmo, porque daquele tamanho todo e latindo com tanta força, só os corajosos chegavam perto. Ele adorava fazer raiva no Pitoko, principalmente quando meu pai estava por perto. Impressionante como entendia o que a gente dizia! E quando alguém dizia a palavra ‘rato’? Nossa, parecia um furacão pelo quintal. Ele tinha muito medo de trovão e foguete. Muito medo. Pulava a janela, ficava escondido atrás do barzinho ou corria pra qualquer cômodo em que a gente estivesse e ficava nos nossos pés, tremendo. Adorava ficar nos pés da mamis, no ateliê, enquanto ela pintava. E era tão fofo pedindo água na latinha, também lá no ateliê. Era alucinado pelo meu pai, mesmo sendo ele quem menos dava bola. Quando o via ou ouvia sua voz, balançava o rabo com tanta força que até machucava a gente. A gente sempre tinha que ficar junto, brincando com ele, pra poder comer ração. Tinha que jogar direto na boca dele, que pulava pra pegar. Ele adorava banana e pão. E não resistia quando a gente trocava a água - era louco por ela quando bem fresquinha. Acho que ele era católico, porque acompanhava a música que vinha da igreja pra anunciar a missa que iria começar – acompanhava do começo ao fim, todo domingo. Era tão lindo. Tão grandão. Tão desajeitado (nisso parecia comigo). Vinha correndo e pulando, quando eu chegava em casa pra passar o fim de semana. Na maior parte do tempo, parecia não ter idéia do seu tamanho e da sua força. Mas hoje, não tem mais pulos, não tem mais medo de trovão, não mais ronco aos pés da minha mãe ou rabo balançando ao ver meu pai. Não tem mais latidos no portão. Não tem mais canto acompanhando a música da igreja. O Pitoko, que não enxerga mais, deve estar procurando por ele no quintal, sem entender aquele vazio. A partir de hoje não tem mais choro na janela do quarto, querendo que a gente vá ficar junto no quintal. Agora só tem muita, muita saudade.
Ô, meu brancão...

7 comentários:

rafael disse...

chorei...

Unknown disse...

chorei também

Quel Fávaro disse...

eu tbm =/

Anônimo disse...

eu tbm :(

Luana Carvalho disse...

ih quel acho q tão cedo não terei tempo pra ler um livro.. agora acumulei a função de enfermeira, o alex caiu de moto e tá meio "quebradinho" (quebrou o pé e a costela) :( bjocas!

Anônimo disse...

Até eu chorei! To me sentindo tão culpada por ter desprezado ele todos esses anos.. Tudo que já falei pra ele foi: "Passa King!"!! Sorry...

Quel Fávaro disse...

tudo bem, prima, ele te perdoa. rs
ainda da tempo de se desculpar com o Pitoko!