
Acordei com o Yuri se mexendo na cama. E entre latidos de alguns cães da vizinhança e um carro que passava ao longe, ouvi gritos. Ouvi pavor, desespero. Pensei estar sonnhando, fui ao banheiro e voltei pra cama. Mas, quando me deitei, os gritos se transformaram em palavras. Socorro! Socorro! Eu sabia que não estava sonhando. Corri pra janela, mas não vi nada além da ladeira iluminada pela luz amarela do poste. Não sei que horas eram, mas imagino que fosse madrugada alta. Fiquei um tempo na janela, tentando ver alguma coisa, qualquer coisa, que me mostrasse de onde vinha tanto medo. O frio que vinha de fora se confrontava com o calor do meu edredon. E os gritos, aqueles gritos apavorados, faziam frente ao silêncio reconfortante do nosso quarto. Acordei o Yuri. Escuta? Tem alguém gritando. Mas os gritos não existiam mais. Nada. Apenas uma moto quebrando o silêncio da rua. Ele esperou um pouco, perguntou se era aqui perto, eu disse que não via nada. Ele segurou minha mão e nossas cabeças encontraram de novo os travesseiros. De repente, mais gritos. Ainda com o mesmo desespero dos primeiros que eu ouvi. Apertei a mão do Yuri, que já tinha voltado a dormir. Desta vez, ele também ouviu. Mas os gritos agora pareciam estar mais longe. O Yuri se levantou, olhou pela janela... nada. Eu fechei os olhos e fiz o que vi estar ao meu alcance: rezei. Rezei muito. Ajude esta mulher. Proteja esta mulher. Acorde alguém que está perto dali. Rezei até pegar no sono de novo. Angustiada, com medo e preparada pra enfrentar um pesadelo que, depois daquilo, certamente viria.